Aventura sem limites

Dadá Moreira, de 38 anos, sempre foi fanático por esportes. Quando tinha 30, porém, começou a sentir que sua condição física não era mais a mesma. Foi perdendo o equilíbrio, a coordenação motora e a fala ficaram prejudicadas. O fotógrafo descobriu que tinha ataxia espinocerebelar, uma doença genética degenerativa. Depois de quatro anos de prostração, tomou uma atitude radical: decidiu fazer rafting. Deu tão certo que, das corredeiras, partiu para o alto: experimentou pára-quedismo e, em seguida, escalada. Não parou mais. Hoje é um dos principais divulgadores do Turismo de Aventura para deficientes físicos no Brasil. Em parceria com outros colegas, montou a ONG Aventura Especial, que dá dicas sobre lugares adaptados para receber pessoas que precisam de atenção diferenciada.
Moreira descobriu que para atender a esse mercado não é preciso muito - só um pouco de boa vontade. Para assimilar os novos atletas, as modalidades radicais sofrem pequenas adaptações: roldanas para içar o praticante de rapel, companhia de instrutor durante caminhadas e nos saltos de pára-quedas, assento especial no meio da bóia no rafting. 'Cada tipo de problema exige um ajuste diferente. Mexe-se pouco nos instrumentos. É mais a ajuda humana que se faz necessária', explica Moreira. Além disso, hotéis e pousadas precisam passar por pequenas reformas. Degraus e portas estreitas nos quartos e banheiros ainda são obstáculos.

A artista plástica Adriana Braum, paraplégica, foi convidada para trabalhar na agência Freeway. Ela percorre o Brasil assessorando hotéis e guias turísticos. Com Adriana, viaja o estudante Herbert Jones, de 24 anos, tetraplégico. O trabalho começou em abril, na Praia de Itacaré, Bahia. Paralelamente, Adriana prepara o primeiro guia turístico brasileiro para deficientes físicos, ainda sem previsão de lançamento.

O dono da agência, Edgar Werblowsky, está confiante no potencial do mercado: segundo o IBGE, há no Brasil cerca de 24 milhões de deficientes físicos. 'Não há dados sobre o perfil socioeconômico dessas pessoas nem estudos comportamentais, mas eu me arrisquei por acreditar que elas só não viajam porque ninguém apostou nelas ainda', explica. 'Se uma em cada dez pessoas que eu levar em uma viagem for deficiente, estou no lucro'.

Depois de se tornar adepto do turismo de aventura, Dadá Moreira teve uma melhora tão radical quanto os esportes que pratica. 'Meu problema não tem cura, mas hoje tenho mais equilíbrio e falo com mais facilidade'.